domingo, 14 de setembro de 2014

entrevista: Ive Seixas, a Andorinha Só

O vôo da cantora a leva para os céus de diversas cidades onde ela canta seu repertório autoral




Texto + fotos: Carla Duarte



Ela ainda não passou fome nem frio, e pensa que seu nome ainda não é conhecido e segue buscando e desejando a vida que ainda não tem. Seu canto, de Andorinha Só, de andarilha que carrega a casa e violão pelo mundo, faz pensar naquilo que Thoureau já disse uma vez, no livro A Desobediência Civil, “deves viver contigo e depender só de ti, sempre arrumado e pronto para partir”. Talvez essa seja uma forma de descrever uma andorinha, que segue seu caminho, sozinha.

O vôo pode ser solo, mas Ive Seixas, cantora e compositora nascida em Resende, nunca está só. As pessoas que passam pelas ruas em que ela se apresenta estão por perto, além daquelas que saem de casa somente para ouvi-la tocar alguma canção do álbum independente “Andorinha Só”, que foi lançado em janeiro e divulgado com exclusividade pelo blog Amplificador, do jornal O Globo.




O disco contém três músicas da artista, e cada música apresenta alguma faceta de Ive. O álbum começa com “Andorinha Só”, canção recheada de influências da Música Popular Brasileira. Na seqüência, “Cervejas Populares”, chega e mostra o lado samba, que esbarra no choro e traz a poesia e olhar da artista sobre os fatos cotidianos. Se a música anterior era sobre reflexão, “O Circo” fecha o álbum com a alegria de infância, com ludicidade e energia.



De acordo com Ive, além de álbum, Andorinha Só é também o projeto de levar apenas voz, violão e chapéu – que arrecada contribuições voluntárias – pelas ruas e locais que dêem espaço para a artista.

- Nesse projeto vou sozinha, só toco voz e violão e passo o chapéu, não cobro cachê. No caso, arrecado o que as pessoas quiserem dar. Acho que isso provoca uma troca e uma valorização interessante da arte. E eu faço esse trabalho na rua também, então, vou às cidades para vivenciar aquele momento, vivenciar viver da rua. Andorinha Só tornou-se isso. E tem também essa coisa do trovador solitário, que traço um paralelo, e é como se o Andorinha Só fosse o feminino do trovador solitário – explicou.

Para alguns, a rua é casa, é local de sobrevivência. Para outros, é espaço de trabalho, mas para Ive, a rua é palco desde novembro de 2013, quando a cantora participou do Tomada Urbana – evento promovido pelo coletivo teatral Sala Preta – e viu que esse era um dos locais para onde ela queria levar sua música.

- Antes de tocar na rua eu tive banda, e toquei em espaços fechados, com público que ia a esses locais para assistir o show. E é completamente diferente tocar na rua, já me senti muitas vezes engolida. Por exemplo, num domingo, que toquei em Copacabana, eles fecham a orla o dia inteiro e às 19h liberam o trânsito, e quando liberaram veio tudo. O trânsito, as pessoas, barulheira, vento, e eu tocando de frente para a rua e me senti engolida. Naquele momento é como se eu nem existisse. Foi uma experiência bem legal, te coloca em um local de reflexão mesmo – considerou.


Para Ive, estar se sustentando apenas com o que ganha com sua música reforçou a prática do desapego. E mesmo conseguindo pagar suas contas, a artista explica que tudo fica mais fácil por não ser consumista, o que ela considera ser benéfico e a ajuda em diversos aspectos. Ainda, a andarilha aponta que a estabilidade do trabalho formal não a encanta. 

- A estabilidade do emprego formal eu acredito que é uma enorme ilusão. Qualquer um pode ser mandado embora do emprego a qualquer momento. Talvez o salário que cai mensalmente, tal dia certo do mês, traga uma sensação de segurança, de estabilidade. Mas não creio que tal estabilidade exista realmente, uma mudança pode vir na vida de cada pessoa de uma hora pra outra – reforçou.

Ainda, a artista considera que, quem se agarra muito à sensação de permanência pode ficar sem chão quando algo inesperado acontecer. E ela explica que, trabalhando na rua aprendeu rápido que tudo pode acontecer e é preciso estar aberta às transformações.

Pelas ruas do estado do Rio de Janeiro e São Paulo, a andorinha já conheceu outros artistas de rua. Segundo ela, a maioria dessas pessoas são muito sonhadoras, que acreditam muito no que fazem e nas pessoas.

- Encontro pessoas que estão ali se doando mesmo e tem sido muito bonito. Se existe uma palavra boa para descrever essa experiência é beleza – salientou.

O talento e a voz de Ive permitem que ela voe sozinha, mas ainda assim ela conta com a ajuda de alguns amigos e amigas para tocar o Andorinha Só. Um deles é o jornalista Leonardo Cardoso, mais conhecido como “Panço”, que passa alguns contatos de pessoas, locais, estúdios para ela, e que custeou 50 camisas do Andorinha Só.




- Tento ajudar de vários modos porque gosto dela, da música, e vejo nela sonhos que não tenho mais, e espero que ela consiga realizar, algo como um irmão mais velho mesmo. Espero que ela possa viver de música, não ter um emprego normal, que ela possa acordar todos os dias respirando arte, vendo um filme, lendo, compondo, fazendo shows. Tudo por desejo, não por dinheiro como em um emprego – destacou.



Planos para o futuro? Ive quer tocar, voar, pousando nas cidades com a ajuda de gente amiga que ela já conhece e fazendo mais contatos para cantar sua música cada vez mais longe. Ainda não ouviu? Confira o álbum e demais informações sobre a artista em iveseixas.com.

Florianópolis: Ive faz sua última apresentação hoje aí. De16 a 29 de setembro ela vai tocar pelas ruas de Porto Alegre. Agende-se!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns meninas!!
A Ive pela coragem de correr atrás do seu sonho!! E a Carla pela entrevista já formada como jornalista!!
Desejo muito sucesso a vcs!!
Bjs no coração
Gê ( mãe do Caio)