sábado, 14 de novembro de 2015

Fotoresenha: #1 Ah! Que isso! Elas estão empoderadas por Coletivo Tiamät

Debate sobre Protagonismo Feminino no Punk


Todas as fotos por Ana Laura Leardini
Texto por Carla Duarte

Primeiramentche: isso não é uma resenha. É um textão, não só sobre o evento mas também sobre Feminismo Sul Fluminense, punk e amizadje.

Segundamentche: a fotoresenha é da Ana Laura, fotógrafa que admiro e que sempre mostra com muita beleza o que retrata. Ela já colaborou outra vez, com duas fotoresenhas do RVIVR, essa e essa. A foto do Ostra Brains é da Luiza Alves, coloquei para mostrar todas as bandas que tocaram.

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Por muitos anos me senti sozinha no role punk/hardcore do Sul Fluminense. Tinham poucas minas, eu não tinha muito contato com elas e essa região por muitos anos não teve uma articulação feminista jovem, dentro ou fora da contracultura. Por um tempo me senti uma feminista solitária também. Não conhecia nenhum grupo de feministas com as quais podia me articular ou apenas conversar. A internet não era o suficiente, era urgente ocupar a cidade, conversar com quem conhece os problemas regionais e construir coisas aqui.

Mas em 2011 as feministas de Barra Mansa, Volta Redonda, Barra do Piraí e cidades dos arredores começaram a se organizar e fazer atos e marchas, principalmente para celebrar o 8 de março. Ao menos, foi nesse ano que as conheci e tive contato com elas. Quando vi essa movimentação, logo me aproximei, pois era (e é) fundamental para mim construir laços afetivos e políticos onde vivo. Desde então, além de ocuparmos a cidade, esse feminismo jovem começou a agregar muitas mulheres, mesmo de forma pontual. Por isso em 2012 e 2013 foi realizado um ato do 8 de março em Volta Redonda, em 2014 a Marcha das Vadias de Volta Redonda e neste ano um dia de rodas de conversa. 

Nessa época, eu já tinha me afastado bastante do role punk/hardcore porque não havia nada lá pra mim. Não tinha representatividade, não tinha feminismo, só tinha uma pá de boy otário e os meus amigos e amigas. Claro que ainda me sentia parte (uns boyzinho despolitizado não interferiram nisso), mas sentia falta, principalmente de garotas querendo construir um espaço menos sexista no punk/hardcore. 
Mas o fato de existir na época (e até hoje) uma construção feminista na cidade, era algo imenso.












Mas porque diabos estou falando tudo isso? É porque vejo uma conspiração de fatores que se entrelaçam e que hoje colocam num mesmo debate as minas do role punk, as minas da marcha e outras tantas que não conheço e que acho incrível elas terem colado. Hoje vejo muitas garotas que estão se aproximando para fazer coisas juntas. Hoje eu vejo boy otário no canto e no fundo do show. Vejo um coletivo só de garotas fazendo algo histórico: um show todo pautado no feminismo e nas minas. Isso ainda não tinha rolado por aqui.

No dia 8 de novembro (domingo) não me senti sozinha no role. Foi o primeiro show do Coletivo Tiamät, o #1 Ah! Que isso! Elas estão empoderadas, que rolou na Toca do Arigó em Volta Redonda. Não me senti sozinha porque eu era a dona do role. Todas as minas eram! E olha, era muita, mas muita mulher. Havia um clima de diálogo, de abertura, de empatia que tomou o espaço e tornou aquilo meio mágico. E isso não é o meu olhar de pisciana mucho loca, isso é o que todas falaram durante e depois do evento. Todas fizeram algo incrível e foi muito foda poder estar lá.

As banquinhas estavam lindas! A Drunken Butterfly saiu do Rio especialmente pro show e trouxe zines, adesivos, colagens e fotografias incríveis. A Maracujá Roxa, também do Rio, trouxe zines, marcadores de livros, cadernos artesanais que se esgotaram num piscar de olhos. O Tiamät vendeu pão de mel, alfajor, coxinha, tudo vegan, claro. E também levou blusas do coletivo e patches maravilhosos. Também rolou a exposição de colagens da Luana Beez e o bazar do Tiamat.

E o que falar da decoração? Ela deu uma identidade ainda maior e mais forte pro evento. Pra onde você olhava tinha pisca pisca, bandeirinhas, cartazes definindo a política do coletivo e dizendo que espaço era aquele. Por exemplo, em vários locais tinha o "Vaza nudes? Sai fora". Já na porta do banheiro, tinha o "Ah, que isso, você está empoderada!". É o tipo de cuidado que não se vê muito e é algo muito importante. E eu não digo isso enquanto alguém que agora faz parte do coletivo, e sim enquanto pessoa que cola em eventos feitos por garotas e caras e que não via algo cuidadoso assim há muito tempo.










Eu estava com a minha banquinha e ajudando no corre, por isso não vi muitas coisas. Mas o que eu vi no debate sobre Protagonismo Feminino no Punk, foi uma sala com umas 100 mulheres com uma urgência gigantesca para desabafar e ouvir. O tema que dominou (para a surpresa de ninguém) foi a violência misógina, a partir de vários recortes. A presença das minas no punk (e a eterna mania dos caras agirem como se nós não estivéssemos lá) também foi conversado, assim como as milhares de pressões que as mulheres sofrem no cotidiano. 

Depois, rolou o show do Ostra Brains (Rio de Janeiro) que lançou recentemente o Gelato Luv (EP), não consegui pegar o show, mas dava pra ver e ouvir que estava bem da hora. Depois, foi a vez das Ratas Rabiosas (São Paulo) levarem o pogo punk pro show. Na sequencia, rolou a Oficina de Veganismo Popular com a Lauren Baqueiro, que além de fazer uma reflexão abolicionista e popular do veganismo, ensinou o pessoal a fazer sorvete com base de inhame. Teve degustação e todo mundo saiu lambendo o potinho. Não só é uma força de expressão, vi gente lambendo mesmo. 

O último show foi das Framboesas Radioativas (Bragança Paulista), o show que vi e dancei desde o início. Foi muito bom ver a ligação das meninas tocando, os riffs marotos e dançantes, a baterista tocando e cantando muito. Mas igualmente bom, foi ver todo mundo dançando, agitando, pogando de boa, sem dar problema nenhum. Ver as meninas ocupando todo o espaço e minhas migas suando, rindo e cantando  foi empoderador. 

Quando elas terminaram, rolaram os agradecimentos do coletivo e o momento mais carioca e fluminense (são coisas distintas) do role: uma session de funk, muitos das antigas, com todo mundo mexendo até o chão.

E olha.. já faz uma semana do evento e ele ainda está pulsando em muita gente. Mal posso esperar pelo próximo!

Veja mais fotos do evento, todas da Luiza Alves, aqui.




Rain Down My Miga On Me

Debate: Protagonismo Feminino no Punk


 





















Ostra Brains (RJ)

Ostra Brains por Luiza Alves


Oficina: Veganismo Popular por Lauren Baqueiro





 Ratas Rabiosas (SP)











Framboesas Radioativas (Bragança Paulista)









Fim do evento, agradecimentos, falatório e migas




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